Você é um dependente tecnológico?
Posted On sexta-feira, 19 de agosto de 2011 at às 23:33 by José Felipe Jr.
A falta de bom senso no uso de meios eletrônicos pode roubar as boas experiências da vida real
Você já calculou quanto tempo passa navegando na internet? Tem se preocupado ou fica irritado quando não pode estar conectado? Tem dividido mais seu tempo com o mundo virtual do que com pessoas presentes fisicamente?
Se a resposta for positiva a uma dessas perguntas, você pode ser um dependente tecnológico. De acordo com o Programa de Dependência de Internet do Hospital das Clínicas de São Paulo, esses são sintomas do vício tecnológico.
O problema se manifesta com a incapacidade do indivíduo em administrar o uso e o envolvimento crescente com a internet. Isso acaba conduzindo a uma perda progressiva do controle e aumento do desconforto emocional.
O pesquisador John O’Neill, diretor da Menninger Clinic, em Houston, nos Estados Unidos, para tratamento contra vícios, considera que os dependentes de telefones celulares ou emails “dividem alguns dos mesmos componentes que pessoas viciadas em álcool ou drogas”. Elas não conseguem deixar o uso de lado, mesmo sabendo das consequências.
Segundo o conceito estabelecido pelo programa do HC, essas pessoas procuram os meios eletrônicos como forma de aliviar a tensão e a depressão.
Os mais tímidos, por exemplo, podem usá-los como ferramenta social e de comunicação. Para os especialistas, é possível considerar o vício tecnológico como uma doença impulsiva, capaz de provocar sérios danos nas relações sociais, tal como acontece com o alcoolismo.
O’Neill vê como sinais de relação doentia o uso excessivo de mensagens de texto ou de voz e envio de emails quando o contato pessoal, seja com a família, amigos ou colegas de trabalho, seria mais apropriado.
Há cerca de um ano, uma britânica, viciada em jogos online, foi proibida de usar computadores porque não alimentava corretamente os filhos e deixou dois animais de estimação morrerem de fome.
De acordo com as investigações, ela recebeu o convite para jogar por um site de relacionamento. No começo, era por uma hora, mas em pouco tempo, o comportamento obsessivo se instalou e a mulher passou a dormir só duas horas por dia, além de não cumprir com determinadas obrigações.
O psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do programa de Dependência de Internet do HC, diz que o problema começa a ser endêmico, caso de saúde pública.
“Em alguns países, como os tigres asiáticos, já existe essa preocupação. No Brasil, essa percepção ainda está longe de acontecer. Isso é alarmante, pois o País é líder de tempo em conexões domésticas no mundo”, ressalta Abreu.
O Brasil também está entre os maiores consumidores de produtos tecnológicos para uso pessoal. As vendas de computadores, por exemplo, bateram recorde no segundo trimestre deste ano: foram quase quatro milhões de unidades.
Os brasileiros só ficaram atrás dos consumidores chineses e americanos. Um levantamento feito pela consultoria Accenture revelou que o Brasil, entre oito dos principais países emergentes e industrializados, foi o que mais vendeu celulares em 2010.
Para o psicólogo, as pessoas perderam o bom senso do que seria o uso razoável da tecnologia de comunicação disponível hoje em dia. “O uso razoável é a utilização da internet de uma forma que ela não roube experiências que você poderia ter na vida real”, alerta o professor.
Os casos mais graves podem ser tratados com a psicoterapia, que vai orientar a mudança de comportamento. Para evitar o diagnóstico de dependência e garantir a saúde mental e emocional, trocar alguns hábitos modernos podem ajudar:
- na hora das refeições, dedique-se ao prazer que isto proporciona, principalmente se estiver na companhia de outra pessoa, e deixe o celular de lado;
- desligue o telefone também quando estiver no cinema ou no teatro e aprecie a apresentação ou o filme;
- ao invés de passar horas na frente do computador, aproveite um dia bonito para dar um passeio ao ar livre;
- se for inevitável, determine um intervalo de tempo de acesso à internet ou ao uso do computador, principalmente se estiver em casa.
A tecnologia está à disposição para facilitar o dia-a-dia, agilizar as tarefas, levar diversão e conhecimento. No entanto, é preciso cuidado para não se tornar refém desses meios.
- Pessoas inteligentes e mentalmente muito ágeis
- Referem passar o “dia todo” conectados
- Pertencentes a todas as faixas etárias
- Apresentam depressão e/ou ansiedade
- Preferem as interações virtuais as reais
- Utilizam a internet como uma forma de expressão daquilo que realmente são e pensam (refúgio)
- Ciclo de amizades e de relacionamentos muito empobrecido
- Desenvolvem idiossincrasias na rede
Uma pesquisa realizada no Reino Unido indica que trabalhadores britânicos desperdiçam em média dois dias de trabalho por mês com buscas inúteis na Internet.
A pesquisa da instituição YouGov diz também que 70% dos 34 milhões de internautas do país perde quase um terço do seu tempo online em buscas que não têm objetivo definido.
Os homens seriam o grupo mais afetado pelo problema, que analistas de hábitos na internet batizaram com a sigla WILF, juntando as primeiras letras da frase "o que eu estava buscando?" em inglês ("what was I looking for").
Sexo e compras
Um terço dos internautas chegou a admitir que essas pesquisas inúteis chegaram a prejudicar o relacionamento com suas parceiras.
Os maiores culpados pelos problemas identificados na pesquisa seriam os sites de compras e os de conteúdo sexual.
"No entanto, o estudo mostrou que, embora as pessoas se conectem com algum objetivo, elas têm tantas ofertas e distrações online, que muitos se esquecem porque estão lá e para quê, e acabam surfando sem destino durante horas", disse Lloyd.
Referências bibliográficas: Instituto de Psiquiatria – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e Uso consciente da internet