A lâmpada, a IBM e os erros
Posted On quinta-feira, 1 de janeiro de 2009 at às 23:13 by José Felipe Jr.Já foi dito que aprendemos muito nas derrotas e pouco nas vitórias. É verdade. A derrota - vista sempre pelo ângulo construtivo - tem o dom de nos fazer pensar em como fazer melhor para superar obstáculos ou vencer, se você preferir. Por analogia, podemos relacionar derrota com erros, considerando que ela é uma somatória deles.
Mas contra isso, conspira todo um processo cultural e educacional que enfatiza o certo como expressão do bom e o erro como expressão do ruim. Poucos vêem que o certo e o errado são conseqüências de um mesmo processo.
Se aceitarmos o certo como "o lado bom" das coisas, deixaremos de correr riscos e isso tolherá nosso gênio criador. Imagine um cientista. Ele parte de alguns postulados e passa a especular algo novo. Nesse processo de criação ele intuirá coisas e as testará.
Até que obtenha resultados positivos naquilo que persegue, encontrará respostas indesejadas ou "erradas". A solução "certa" será aquela que atinge seus objetivos, mas antes disso ele passou por diversas soluções "erradas", que foram impulsionadoras da solução desejada. Se ele cedesse ao erro, nada criaria e não seria um cientista.
Se perguntado sobre seus "erros", talvez o nosso cientista responda como Thomas Edison. Perguntaram-lhe algo parecido com: "É verdade o senhor errou 999 vezes antes de fazer a Lâmpada funcionar?", e ele teria respondido algo como: "Não; eu descobri 999 situações em que uma Lâmpada não funcionará". É muito diferente de errar.
Leve esses conceitos ao ambiente empresarial. Você verá gerentes, supervisores, operadores e outros que não tomam decisões porque têm medo de errar, medo de experimentar o que nunca foi tentado, medo de idéias com as quais não estão familiarizados e por fim, medo de se expor. Com isso não percebem o novo, que pode estar debaixo de seus narizes, sufocam idéias brilhantes etc. Pior ainda quando a organização trata de punir o erro ao invés de aprender com eles. Torna-se uma organização previsível e isso é mortal no mundo nos negócios.
Visões proativas sobre o erro são muitas e emblemáticas. Thomas J. Watson, fundador da IBM dizia: "O caminho para o sucesso é dobrar a sua taxa de erros”. O presidente de outra empresa de computadores dizia algo similar: "Nós somos inovadores. Estamos fazendo coisas que nunca ninguém fez. Portanto, vamos errar muito. Meu conselho para vocês: errem, mas errem depressa”. Há uma máxima em gestão que vale lembrar: "Quem não faz por medo de errar, já errou!".
Cultuar o erro seria, digamos, um erro. O que se propõe é que o erro seja visto como algo instrutivo e renovador, tanto em termos pessoais quanto organizacionais.
O erro - visto como algo a ser banido - muda o foco de seu efeito educativo e gerador de idéias. Torna-o uma espécie de "pecado mortal" que deve ser eliminado a todo custo. Só que ao eliminar a possibilidade do erro, estaremos nos condenando à repetição. Em breve, estaremos obsoletos, mas estaremos certos. Brutal contradição.
É certo que podemos aprimorar nossos acertos com o estudo sistemático e planejado de nossos erros - os quais prefiro chamar de idéias preliminares em busca de soluções estáveis - e com isso transformar algo dito errado como parte integrante do certo, ou pelo menos como indicador de que estamos seguindo uma trilha que nos conduz a outros destinos.
A norma ISO 9000 desde seus primórdios, pede registro e documentação de situações não-conformes, ou seja, de erros que afetam a qualidade do produto ou serviço. Pede que as organizações produzam um histórico do que deu errado, analisem os porquês e que produzam meios planejados e controlados que evitem a reincidência. Com isso, forma-se um referencial de conhecimento que permite planejar e desenvolver de maneira mais eficaz. Essa ação permite que processos sejam revistos e aprimorados, produzindo uma organização mais viva e em constante evolução. Claro que a norma trata erros como possibilidades de melhoria organizacional e não como algo nefasto.
Então, devemos deixar de lado o temor de errar e transformar essa possibilidade em elemento integrante para se chegar ao sucesso. Finalizando, não erre a esmo, erre com objetivos, aprenda a errar.